quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fadiga





Um comunicólogo disse certa vez: “Vamos evitar a fadiga da imagem”. Ele estava falando sobre não assistir imagens registradas, enquanto ainda gravávamos, mas enquanto gravar clipes ainda não faz parte frequente da minha vida, vou trazer a frase pro meu lado passional. 

De certo que é ótimo estar do lado de quem nós amamos. É claro que, quanto mais nós conhecemos alguém, mais dá vontade de conhecê-la, de nos aproximar e entender seu interior, mas a demasia de sua companhia pode fazer um efeito completamente oposto ao esperado.

Eu sempre amei os “começos”. Seja de um relacionamento ou um projeto, é tudo muito mais empolgante quando se dá o start. Mas nossa sede de querer sempre mais, mais e mais, acaba nos colocando no meio do exagero do apego. É que os filósofos, poetas e companhia ilimitada sempre nos empurra pra frase: “Aproveite o seu dia como se fosse o último”. Eu não discordo. Acho que devemos aproveitar mesmo. Entretanto, assim como hoje pode ser nosso último dia aqui (na Terra), pode não ser. Daí, você acaba vendo a pessoa o tempo inteiro, inunda-a de convites, aceitas todos os convites que ela faz; sai, volta, sobe e desce ao lado dela, e o que acontece é a grande aproximação, mas os defeitos, manias e cismas também vêm junto com o bônus da sua companhia.

Em vista disso, é possível considerar que o reencontro após um tempo de afastamento é ótimo. Vamos viver nosso dia como o último, mas sempre pensando no possível amanhã. 

Amar alguém é ótimo, mas você e seu ‘alguém’ também precisam ter o seu espaço livre pra respirar o ar de outras companhias.

domingo, 23 de setembro de 2012

Laia



É impossível ser aceito por unanimidade, ainda mais quando se tem uma personalidade tida como difícil, como dizem que é a minha. Mas não. Na verdade, eu nunca fui difícil de lidar. Como já disse por aqui: ‘Eu gosto de ser bem tratado, e ponto’.

Muita gente diz que não precisa ser aceito, mas eu acho que isso é uma forma de lidar com a rejeição, ou com o fato de ser um pé no saco. 

As pessoas vivem errando, vivem abrindo mão de si, e tudo isso só pra serem amadas. No entanto, nós escolhemos aqueles que nós queremos que nos ame. Escolhemos pessoas de “qualidade”. Escolhemos aqueles que abrigam sentimentos em comum. Às vezes escolhemos pessoas de forma inconsciente, mas escolhemos.
Só que o que nosso jeito agrada de forma involuntária e nem sempre são os legais.
E se aquele cara te admira é o maior prosa ruim? E se aquela menina te trata estupidamente bem, mas é racista? Impossível lidar com isso de forma tranquila. Lá se vai mais um afastamento.

E tem outro lado: tem gente estúpida que compra briga ou fala mal pelas nossas costas gratuitamente. Povo vil e sem o mínimo de caráter. Por isso que, quando eu descubro que uma pessoa de determinada laia me odeia, eu digo: ‘Ainda bem’. Eu agradeço o “imenso privilégio” de ter o seu ódio limpando o chão que eu piso.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Friendship



E pela primeira vez, eu apaguei um texto da fábrica. O título era: ‘Melhores amigos só os imaginários’. Nesse texto, eu dissertava em torno da frase do Blaise Pascal: “Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas”.

Ao escrever sobre isso, assim que eu postei, não me senti confortável, daí fui fazer um olhar interno e descobri que existem amigos aos quais eu nunca teci um comentário ruim. Amigos que fizeram a frase clássica do Sartre perder o sentido: “O inferno é o outro”. Amigos que já me tiraram da fossa; que fizeram uma aula chata passar em dois segundos; que fizeram uma noite fail ser muito bem sucedida. Amigos que eu me identifico a tal ponto, que não consigo ficar com raiva, mesmo quando eles aprontam. Amigos que eu quase não encontro, mas quando encontro, conversamos por horas, mas ainda sobra assunto para um próximo reencontro. Amigos que dão espaço pras besteiras que eu falo. Amigos chatos, briguentos, doentes e sem noção... Portanto, fiz aquilo que a internet me permite: apaguei uma coisa da qual eu me arrependi de ter feito.
Não considero inútil o texto apagado, mas aquele não era eu de verdade, eu estava sendo guiado por uma emoção momentânea, por uma pessoa específica, e não por um conjunto de experiências que eu tive durante todos esses anos.

Existem melhores amigos? Sim. Existem pessoas que nunca te fizeram sentir pequeno ou diferente? Sim.  Elas podem te machucar um dia? Sim, são seres humanos. Mas acho que amigos não foram feitos para serem colecionados, nós os amamos e pronto. Rotulá-los como produtos, aí eu já acho dispensável.

Alguns dos meus amigos são como flores num jardim, mas que isso fique entre você e eu.

 De vez em quando eu vou olhar a vida por outro ângulo, pois, de lá, talvez, apareça algo novo que me surpreenda.

domingo, 16 de setembro de 2012

Surdo




Cada pessoa tem um ponto de vista que pode, ou não, corresponder com as coisas que você acredita. 

O povo está sempre julgando, tecendo críticas destrutivas e olhando atravessado.

Na vida, várias coisas são certas, entre elas: seus amigos vão lhe decepcionar, seus amores vão lhe ofender, as coisas que você mais acredita vão ser postas a prova na sua frente e, é óbvio, que o correto é lutar a favor dos seus ideais. Mas é preciso lembrar que existe um tênue limite entre defender seus pontos de vista e as coisas que você acredita, e a indesejável paranoia.

Assim como eu não posso escolher a dedo as pessoas que me cercam, eu não posso selecionar quais são os assuntos que me incomodam ou olhares que não me agradam. Eu posso apontar alguns temas que não me deixam à vontade, mas o controle na fala do outro é impossível.

Portanto, é preciso não fixar o olhar apenas num ponto, nem tão pouco fazer da sua luta pela defesa dos seus pensamentos, algo que prenda sua atenção e nunca te deixe livre.
Não acho que seja interessante deixar as pessoas passarem por cima do que você acredita, só pra você não criar um clima desconfortável ou perder um “aliado”, mas também não acho que tudo que as pessoas falam deva ser levado tão a sério. As consequências da sua batalha eterna contra as pessoas que pensam diferente de você é muito cansativa, e às vezes é preciso entender que cada um teve sua educação e criação de uma maneira. Conversar com calma é uma opção; explicar, sem gritos ou palavras ásperas, sua visão sobre determinado assunto.

E vamos combinar que tem gente que não vale nem a pena um diálogo na tentativa de fazê-la mudar. O desprezo é um ótimo remédio pra muitos males. 

Às vezes é bom deixar o fato se dissolver. Deixar que as palavras de gente dessa estirpe se dispersem no vento. Let go. Você nunca vai sobreviver, a menos que, de vez em quando, finja ser surdo.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cansado de 'estou cansado'




De  uma vez por todas, eu estou cansado de ser eu.
Sério. Eu gosto do meu jeito em vários aspectos, mas cansei de ser não politizado. Cansei dessa minha irreligião. Cansei de estar sempre dizendo que determinada coisa foi ‘a pior da minha vida’. Cansei desse exagero de feelings. Cansei das minhas promessas de mudança. Cansei da minha autopiedade. Cansei de tentar agradar terceiros. Cansei de viver sob expectativas, irreais e surreais. Cansei de ser sincero só até onde me convém. Cansei de apagar e escrever de novo o mesmo número de telefone. Cansei de gente me cumprimentando o tempo inteiro. Cansei de fingir que não vejo os conhecidos. Cansei de me apaixonar e desapaixonar em questão de dias. Cansei de me censurar. 
Cansei de escrever textos nesse blog, de compartilhar minhas dores e meus pontos-fracos.
Cansei da apatia dos meus amigos, do conforto no fracasso, de puxarem pros mesmos lugares. Cansei de ir sempre pro lado mais confortável. Cansei dos meus atos falhos. Cansei de fantasiar, de reclamar, reclamar e reclamar.
E cansei, definitivamente, de dizer que estou cansado e continuar parado.
Venha, amanhã. Me traga tudo que há de mais lindo. Me traga novidades nas minhas perspectivas. 


◇ É passado, mas não esquecido