terça-feira, 13 de novembro de 2012

Elo quebrado




Eu tenho vivido um perfeito círculo de amizades. Todos se amam incondicionalmente. Todos se declaram o tempo inteiro, referindo-se a seus amigos com amor e respeito. 

De verdade, não estou sendo irônico ou sarcástico, estou vivendo isso, realmente.

Todos têm personalidades bem distintas, mas o que deixa nivelado o bom convívio é a admiração recíproca.

Somos assim: um deles é completamente careta quanto às diferenças, mas nos cobre de beijos quando nos encontram; outro é muito introspectivo e retraído quando se trata de falar sobre si, mas não perde a chance de dizer o quanto ele nos acha importantes; outro deles é completamente louco, já aprontou mil e umas, mas disse que, se alguém me magoar, ele tira o nome do inimigo número um da lista dele, e coloca quem me magoou. E por aí vai...

Sempre nos divertimos muito juntos. Ficamos num lugar em comum onde nos encontramos, ou vamos pras festas mais insanas que acontecem aqui pela região. Volta e meia, por motivos de força maior, nós precisamos nos separar, daí um vai pra uma praia do Sul, enquanto o outro vai pra uma cidadezinha do interior e os outros ficam aqui mesmo. Dois dias depois, quando nos encontramos, parece que estamos recebendo familiares vindos da guerra do Iraque. É “eu senti sua falta” pra lá, é “eu te amo” pra cá; tudo isso acompanhado de abraços longos e demonstrações de afeto.
Acho que, mesmo sendo bem diferentes uns dos outros, o que liga cada um de nós (além da emotividade) é a necessidade de ter pessoas a quem recorrer e demonstrar amor.

No entanto, alguns deles já tiveram seus desentendimentos. Eu já me decepcionei com alguns deles no passado e, pra completar, existem histórias tão complexas de serem explicadas aqui,  que me resumo a dizer: o passado ainda ecoa nesse círculo – exceto pra dois novos integrantes do grupo, que ainda veem tudo como eu expliquei acima.

Portanto, imagino que, muito em breve, essa suposta relação firme vai acabar se tornando frágil e o primeiro elo quebrado serei eu. Primeiro porque eu sou rancoroso e, assim sendo, muitas mágoas vivem rodando em minha cabeça. Segundo, porque... Acho que nem preciso explicar o porquê.
E se você tá se perguntando: “Ué, por que ele não vai explicar o segundo motivo?”, aí eu pergunto: ‘É sua primeira vez aqui, não?’.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Inveja



Lendo um livro chamado “Os sentidos da paixão”, uma passagem sobre a inveja, dizia: “A inveja é um sentimento tão vil, que ninguém consegue admitir que sente e, quando admite, chama de inveja boa”. Concordo. Já vi muitas pessoas admitindo sentir a tal “inveja do bem”, mas eu não. Eu sinto inveja, mas não a inveja de querer exatamente o que pessoa tem e que ela acabe sem, mas quero muito o que ela possui.


Sinto inveja das casas dos rappers que ostentam tanta riqueza e luxúria. Sinto inveja do carro do cara que mora ao lado, que o leva a todos os lugares de difícil acesso pra mim. Sinto inveja das pessoas dispostas, que acordam às 5 da manhã pra malhar, precisando estar num escritório às seis.
Sinto uma inveja brutal das pessoas felizes em tempo integral – mesmo não acreditando nesse tipo de felicidade. Sinto inveja quando eu fico um bom tempo sem ficar com ninguém, e vejo um casalzinho andando de mãos dadas na rua. Sinto inveja dos atores americanos que têm um contrato anual de quatorze milhões de dólares. Sinto inveja de alguém alcançando resultados satisfatórios tendo os mesmos projetos que eu. Sinto mesmo, muita inveja.

A única diferença entre você, que está lendo esse texto dizendo a si mesmo: “Eu não sinto inveja. Sou grato por tudo que tenho” e eu, é que eu admito. Acredite, você não é grato por tudo, tem sempre algo faltando. Uma resposta aparece, outra questão brota. Nós sempre buscamos novidade e essa boa novidade concretizada nós vemos no outro. Essa busca é inevitável, assim como a inveja.

Eu também faço parte do outro lado: eu sou invejado. Normal. Algumas pessoas veem em mim, algo que elas não têm e nasce ali aquele sentimento. Entendo, mas me mantenho esperto.
Por aí, dizem que a inveja é uma confissão de inferioridade, mas, pra mim, não admiti-la, sim. Sentimentos vis não deixam de ser vis quando admitidos, mas no caso da inveja a situação fica menos suja. Os benditos benevolentes dizem que o correto é ficar feliz com a alegria alheia, mas eu não consigo. Eu não sou tão nobre assim.

Aquele amor... Aquele carro... Aquele casa... Aquele emprego... Eu escrevendo esse texto, você lendo, e os invejados lá fora se esforçando pra manter o objeto da nossa inveja e se livrar do peso da nossa energia.


◇ É passado, mas não esquecido