quinta-feira, 28 de março de 2013

Abandono




Deve ser desgastante me amar. Minhas mudanças de humor repentinas, minhas saídas rápidas (muitas vezes à francesa), meu mau humor matinal, minhas tempestades em conta-gotas, meus hiatos com quinzenas de duração...

Me amar não deve ser muito fácil. Deve ser complicado amar minhas críticas inesperadas, minha devoção e meu repelir ao mesmo tempo, minhas tragédias transformadas em DRs, meu olhar de desaprovação... Não, não é mesmo fácil me amar.

Por outro lado... Deve ser confortante saber que tem um bom amigo sempre que precisar. Imagino que deve ser um alívio depois de ter um dia ruim, receber uma ligação minha, perguntando: “E aí, você tá bem?”. Acredito que seja tranquilizante ouvir uma palavra de conforto da minha boca. Um abraço meu num momento difícil. Deve ser legal curtir meu altruísmo, minhas piadas rápidas, minha astúcia, meu afeto...

Não deve ser fácil lidar comigo, mas quem disse que eu quero ser “fácil de lidar”.

Deve ser difícil me amar, mas, arrisco dizer, deve ser muito mais difícil sofrer o meu abandono.


terça-feira, 12 de março de 2013

E se?




No filme “The beach”, um diálogo guiado pelo personagem do Leonardo di Caprio me chamou muito a atenção. Nessa conversa, onde ele tentava conquistar uma mulher, ele disse o seguinte: “Dizem que existe um universo paralelo onde tudo que a gente deseja aqui, acontece lá”. Daí, minha mente muito pouco fantasiosa, começou a imaginar o velho “e se?”. E mesmo sabendo que a pior parte de sonhar é acordar, minha mente ficou divagando...
E se tudo que eu passei de ruim na vida não tivesse acontecido? E se tivesse acontecido de outra forma? E se meus sonhos fossem todos concretizados rapidamente? E se não existissem dramas, bullying, inimizades feitas na infância e roupas pretas em dias nublados? E se? E se...


***

Dias como esses aqui no Rio de Janeiro são raros nessa época do ano; tempo parcialmente nublado e ventos fortes.
 O amor da minha vida saiu a pouco - deve ter ido comprar água de coco pra ajudar a curar minha ressaca, ou foi visitar o primo chato que se mudou pra cá e vive cobrando nossa visita -, como de praxe, deixou a cama toda bagunçada.
Levou alguns minutos até eu perceber que, além da cama, o loft estava um caos. Dois amigos dormindo no chão; uma amiga só de calcinha jogada no sofá da sala da TV; um cara que não conheço vestido numa camisa do Nirvana, dormindo sentado perto da porta e bitucas rolando no chão. Depois de acordar todo mundo e colocá-los pra fora, lá vai o escravo dar um grau na casa. Hoje não é dia de dona Maria, então sobrou pra mim.
Tomei um belo banho, coloquei uma roupa folgada e fui terminar uma música.

Depois de tudo limpo, fico do jeito que gosto de ficar quando to de “pós-rock”: sozinho. Escrevi, li, toquei, cantei, cozinhei e quase havia esquecido o meu show de hoje à noite.
Ser cantor sempre foi meu sonho desde criança – Ok, toda criança canta, mas eu queria mesmo (risos). Minha infância foi linda demais, era amigo de todo mundo, todos gostavam de mim e respeitavam. Sempre que me lembro da minha época de guri, imagino dias sol, poucas chuvas, vultos cheios de cores e risadas longas.

Seguindo minha infância, minha adolescência também foi linda. Sempre namorei muito. Meus relacionamentos duravam décadas. Meu relacionamento mais curto durou dois anos. Eu respirava segurança e acho que devia ser atraente, sei lá. Quando penso na época do colégio me dá uma saudade imensa. Tenho amigos que me procuram até hoje pra relembrar os velhos tempos, onde a gente roubava a mente do porteiro pra comprar bebidas pra galera e o “clube do cigarro” incomodando os caras dos esportes.

Depois de tudo veio a faculdade e, como não poderia ser diferente, fiz minha passagem ser linda por lá. Na faculdade de Jornalismo todos se amavam e saiam juntos direto.
Quando eu me formei, me veio a vontade de seguir a vida de cantor, tocando minhas músicas, do meu jeito e fazendo da forma que eu sempre sonhei. Daí, como eu estava num relacionamento com a pessoa certa, que eu já queria há anos, propus uma viagem. Meu ouvido se deliciou como um “vamos agora!” e fomos.

Com meus pais eu não precisava me preocupar, nem tão pouco com meu irmão, todos com suas vidas tranquilas. E lá vou eu rumo ao Rio de Janeiro. 

Shows, shows e mais shows... Minha vida ficou muito corrida desde minha chegada aqui.
Ainda lembro com carinho de muitos amigos que deixei pra trás, mas sempre faço esforço pra trazê-los pra cá ou visitá-los, afinal, sempre fui bem aceito, muito amado e acho que todos que tiveram uma parte a acrescentar na minha autoestima rica de boas lembranças, merecem o troco.
Hoje, depois do show (que eu sei que vai ser lindo), vou à Angra, porque todo mundo merece um descanso digno.

Agora eu vou tomar um Chardonnay.

E que todos nossos caminhos sejam sempre iluminados.

***

E como eu disse antes, a pior parte de sonhar é acordar do sonho.


◇ É passado, mas não esquecido