“Supere isso e, se não puder superar, supere ao menos o vício de falar a respeito”. Quando Caio Fernando
Abreu escreveu essa máxima universal, ele deve ter pensado em alguns dos meus
amores.
Não é fácil apagar o passado. Não é fácil
viver nesse mundo. É muito complicado lidar com gente; com rejeição, olhares
atravessados, burocracias, doenças, crimes, traições...
Qualquer pessoa do mundo,
está apta a escrever uma lista de coisas terríveis que nos atormentam. Mas, assim
como todas as coisas difíceis de lidar na vida, aguentar a mesma pessoa,
repetindo o mesmo assunto, sobre as mesmas pessoas, girando ao redor do mesmo
tema, sempre se colocando no papel de vítima, beira o surreal.
Quando a gente resolve se calar sobre
determinadas partes da nossa vida, o cérebro vai prendendo isso no inconsciente
e eles vem à tona nos sonhos e atos falhos (até onde eu sei). Mas pelo menos lá,
você não incomoda nenhuma alma.
É claro que superar a dor é muito complicado, o passado então, nem se fala.
Cada um lida de um jeito: tem gente que se afasta de tudo e de todos (meu
caso), tem que gente que encara, que se joga, e eu não julgo nenhuma das formas
de lidar com as crises, mas, eu não conheço ninguém que tenha se curado,
falando repetidamente com um amigo (no caso, eu), sem novos argumentos e tendo
a certeza que esse amigo (no caso, eu) não é psicólogo.
Sou um bom ouvinte, mas tudo tem limite. Sou
daqueles que, em poucos minutos, muitas pessoas se sentem à vontade pra falar
sobre tudo. Se eu acho isso uma dádiva? Sim, eu acho. Mas uma linha tênue
separa um dom de uma maldição.
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