Eu nunca fui o rejeitado do colégio, verdade seja dita; mas, as várias
pessoas que me odiavam e vilipendiavam faziam um esforço concentrado pra eu
perceber isso; o nome disso é bullying, mas
a popularização da palavra fez com que seu conceito se perdesse, mas pra mim
não, então eu a uso.
Sempre achei que viver fosse uma tarefa difícil. Muitas cobranças pra eu
ser melhor como pessoa, melhor como um profissional, melhor pro planeta...
Aí era assim: eu me distanciava de tudo e de todos. Me afastava tanto, que as poucas pessoas que tentavam se aproximar, eram repelidas pelo meu medo de aproximação, que eu transformava num campo de força imaginário cheio de raiva, antipatia, medos e frustrações.
Nesse mundo onde eu era o vilão, o mocinho e o figurante ao mesmo tempo,
eu tentava achar válvulas de escape que fizessem eu me livrar do tédio e,
aproveitando a oportunidade, fizessem com que as pessoas me vissem: internet.
Usei tanto essa ferramenta pra expressar coisas que eu nem sabia descrever, que
fiquei com mais uma (entre centenas) fama: depressivo.
É claro que nenhuma alma
iria pensar: “Ah, ele é um adolescente como qualquer outro”. Não, é muito mais
fácil rotular. E o pior é que eu me estendi nessa persona, além de “depressivo”, virei um exagerado melancólico, arredio,
raivoso... E fama, ao contrário de confiança, leva segundos pra conquistar e
séculos pra se livrar.
Isso tudo, obviamente, tem uma explicação: a relação com o outro (pelo
menos no meu caso). A falta dessa relação (eu me sentindo exageradamente rejeitado)
me fez ganhar vários prêmios: síndrome do pânico, ansiedade, T.O.C...
Anos no meu quarto. Anos compondo sobre os mesmos assuntos, mesmas
pessoas... Anos de self-destrution e
sedentarismo condicionado pela solidão. Anos me sentindo estranho no mundo – e
olha que o mundo é grande.
Anos se passaram e as coisas começaram a mudar. O cara que tocava violão
e cantava tão inexpressivamente, se tornou um bom vocalista, comunicativo e sem
medo de falar. Aquele moço que sentava lá no canto, se tornou o centro de onde
muitos querem se aproximar. A mudança veio sem que eu percebesse. Eu não me
empenhei pras coisas mudarem, elas foram mudando imperceptivelmente, até eu me
dar conta de que os olhares já não eram pra julgar meu jeito ou minha vergonha
visível, eram pra elogiar meu estilo ou meu ar sério. Os convites, antes quase
nunca feitos, agora choviam no meu celular, e os lugares sempre mais bem
frequentados e interessantes. Ficar no meu quarto, sozinho e deprimido virou
uma opção, porque todos têm momentos onde os pensamentos são as únicas
companhias aceitáveis.
O cara esquecido as traças da comunicação humana, agora não passa sem uma alma fazer questão de acenar pra ele na universidade.
Agora é recebido com alegria quando chega a vários ambientes. Elogios
que ficam presos na alma: “Você é um poeta; a essência da poesia” <> “O
céu se abre quando você canta” <> “Pessoas especiais como você são raras
no mundo”... E por aí vai.
Ai, você se pergunta: “Mas por que ele começou falando sobre
autodepreciação e agora demonstra soberba?”. Eu não sou soberbo, muito pelo
contrário; uma personalidade descrita acima é difícil de se livrar, mas dá pra
moldá-la e deixá-la mais interessante (que foi o meu caso).
Depois de tudo que eu sofri, por dentro e por fora, eu não mereço meus
dias de soberba? Eu não mereço me sentir extremamente interessante, sem me
conter, sem forçar a humildade? Depois de tudo que eu passei, vivi e me livrei,
será que é pecado eu me amar tanto a ponto de soar como egoísmo? Será que eu
não posso me afastar daqueles que representam, de uma certa forma, aqueles que
me “gastavam”?
Sempre tenho em mente: humildade quase sempre, egoísmo moderado, amo a mim
mesmo, amo o próximo, faço o impossível pelas pessoas que eu amo... Mas o
espaço pro meu ego inflado com pessimismo, hoje é inflado com elogios dignos de
serem pregados na parede do meu quarto, pra eu ler sempre que pensasse na
tristeza.
Então, em vista disso, entendam que algumas pessoas tem o completo
DIREITO a soberba. Válvula de escape, vingança ou não, não importa. Let it be.
Let me be. Hoje eu já não suporto o desrespeito e me imponho. Mesmo com alguns dos
amigos me lembrando como o colégio era chato, hoje eu posso simplesmente
abandoná-los. Tá, não tão simplesmente... Aliás, é tão fácil deixá-los, quanto deixar
pra trás meu antigo eu.
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