sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Inveja



Lendo um livro chamado “Os sentidos da paixão”, uma passagem sobre a inveja, dizia: “A inveja é um sentimento tão vil, que ninguém consegue admitir que sente e, quando admite, chama de inveja boa”. Concordo. Já vi muitas pessoas admitindo sentir a tal “inveja do bem”, mas eu não. Eu sinto inveja, mas não a inveja de querer exatamente o que pessoa tem e que ela acabe sem, mas quero muito o que ela possui.


Sinto inveja das casas dos rappers que ostentam tanta riqueza e luxúria. Sinto inveja do carro do cara que mora ao lado, que o leva a todos os lugares de difícil acesso pra mim. Sinto inveja das pessoas dispostas, que acordam às 5 da manhã pra malhar, precisando estar num escritório às seis.
Sinto uma inveja brutal das pessoas felizes em tempo integral – mesmo não acreditando nesse tipo de felicidade. Sinto inveja quando eu fico um bom tempo sem ficar com ninguém, e vejo um casalzinho andando de mãos dadas na rua. Sinto inveja dos atores americanos que têm um contrato anual de quatorze milhões de dólares. Sinto inveja de alguém alcançando resultados satisfatórios tendo os mesmos projetos que eu. Sinto mesmo, muita inveja.

A única diferença entre você, que está lendo esse texto dizendo a si mesmo: “Eu não sinto inveja. Sou grato por tudo que tenho” e eu, é que eu admito. Acredite, você não é grato por tudo, tem sempre algo faltando. Uma resposta aparece, outra questão brota. Nós sempre buscamos novidade e essa boa novidade concretizada nós vemos no outro. Essa busca é inevitável, assim como a inveja.

Eu também faço parte do outro lado: eu sou invejado. Normal. Algumas pessoas veem em mim, algo que elas não têm e nasce ali aquele sentimento. Entendo, mas me mantenho esperto.
Por aí, dizem que a inveja é uma confissão de inferioridade, mas, pra mim, não admiti-la, sim. Sentimentos vis não deixam de ser vis quando admitidos, mas no caso da inveja a situação fica menos suja. Os benditos benevolentes dizem que o correto é ficar feliz com a alegria alheia, mas eu não consigo. Eu não sou tão nobre assim.

Aquele amor... Aquele carro... Aquele casa... Aquele emprego... Eu escrevendo esse texto, você lendo, e os invejados lá fora se esforçando pra manter o objeto da nossa inveja e se livrar do peso da nossa energia.


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◇ É passado, mas não esquecido