Eu tenho vivido um perfeito círculo de amizades. Todos se
amam incondicionalmente. Todos se declaram o tempo inteiro, referindo-se a seus
amigos com amor e respeito.
De verdade, não estou sendo irônico ou sarcástico, estou vivendo
isso, realmente.
Todos têm personalidades bem distintas, mas o que deixa
nivelado o bom convívio é a admiração recíproca.
Somos assim: um deles é completamente careta quanto às
diferenças, mas nos cobre de beijos quando nos encontram; outro é muito
introspectivo e retraído quando se trata de falar sobre si, mas não perde a
chance de dizer o quanto ele nos acha importantes; outro deles é completamente
louco, já aprontou mil e umas, mas disse que, se alguém me magoar, ele tira o
nome do inimigo número um da lista dele, e coloca quem me magoou. E por aí vai...
Sempre nos divertimos muito juntos. Ficamos num lugar em
comum onde nos encontramos, ou vamos pras festas mais insanas que acontecem
aqui pela região. Volta e meia, por motivos de força maior, nós precisamos nos
separar, daí um vai pra uma praia do Sul, enquanto o outro vai pra uma
cidadezinha do interior e os outros ficam aqui mesmo. Dois dias depois, quando
nos encontramos, parece que estamos recebendo familiares vindos da guerra do
Iraque. É “eu senti sua falta” pra lá, é “eu te amo” pra cá; tudo isso
acompanhado de abraços longos e demonstrações de afeto.
Acho que, mesmo sendo bem diferentes uns dos outros, o que
liga cada um de nós (além da emotividade) é a necessidade de ter pessoas a quem
recorrer e demonstrar amor.
No entanto, alguns deles já tiveram seus desentendimentos.
Eu já me decepcionei com alguns deles no passado e, pra completar, existem
histórias tão complexas de serem explicadas aqui, que me resumo a dizer: o passado ainda ecoa
nesse círculo – exceto pra dois novos integrantes do grupo, que ainda veem tudo
como eu expliquei acima.
Portanto, imagino que, muito em breve, essa suposta relação
firme vai acabar se tornando frágil e o primeiro elo quebrado serei eu.
Primeiro porque eu sou rancoroso e, assim sendo, muitas mágoas vivem rodando em
minha cabeça. Segundo, porque... Acho que nem preciso explicar o porquê.
E se você tá se perguntando: “Ué, por que ele não vai
explicar o segundo motivo?”, aí eu pergunto: ‘É sua primeira vez aqui, não?’.