Em todos os discursos, palestras ou até mesmo em simples
conselhos, as pessoas que conseguiram superar a depressão, ansiedade ou
qualquer outro tipo de desordem do gênero, tinham em comum a frase: “eu tive
que mudar de vida completamente”.
Essas pessoas que geralmente me inspiram boas atitudes (ou
pelo menos me fazem pensar em ter boas e novas atitudes) tiveram que, segundo
elas, ser uma versão melhorada de si, ou seja, novos hábitos benéficos.
Eu entrei nessa vibe
também. Comecei a mudar tudo que me corroía e comecei a trilhar o meu caminho
da cura. E sim, funcionou. Aliás, tem funcionado. Só que, durante essa
trajetória nada fácil repleta de recaídas, eu percebi que eu estava fazendo
algo errado, embora ainda existisse muito esforço pra caminhar.
A grande questão é que; imaginem que meus traumas estão
sendo representados num corpo acidentado. Imaginem que eu sou um paramédico que
chegou ali pra resgatar aquele corpo. Agora, em vez de cuidar logo do trauma
principal, eu fui justamente cuidar das feridas superficiais: um corte no
braço, uma ferida no dedo médio, um arranhão na perna esquerda... Eu fui
mudando sutilmente... Sabe? Beeem aos poucos. Em vez de ir cuidar da dor
profunda, naquela que causa mais dano, eu cuidei de algumas feridas que talvez
o tempo pudesse curar sem grande esforço.
Pois é, embora eu tenha usado essa analogia Grey’s Anatomy, o que de fato predomina
é que a minha energia foi gasta cuidando do simples – se é que dá pra medir
traumas. Em vez de ir logo na ferida principal, eu fiquei cuidando daquelas que
me afetam a saúde, mas não AQUELA que realmente dói e que faz com o que o corpo
todo reaja mal.
Se eu disser que não houve um lado bom e alguns benefícios,
eu estaria mentindo, mas admito que devia ter me livrado dos hábitos mais
corrosivos logo de cara. Porque, o grande problema de cuidar dos danos
secundários, é que esse caminho é cheio de curvas e atalhos que passam sempre
pelas tentações, que me dão a falsa sensação de que alguma coisa boa está
acontecendo ali... Mas não. É como encontrar um oásis, mas perceber pouco
depois que, na verdade, você ainda tá andando no sol latente do deserto.
Bom, como eu percebi isso a tempo de começar, lá vou eu
tentar de novo. Mas dessa vez, em vez de pensar em renúncias, eu vou pensar nas
aceitações.